Esteja com Deus minha criança.
E durma no infinito.
Esse oceano que te abraça,
É de pranto, quanta desgraça
Faz-se de acalanto as ondas.
Carregam seu pequenino corpo,
te livram de tamanho sofrer.
Entrego-te à sorte.
Benevolente é a morte,
frente à vida negra que ali espera.
Não te quero o açoite
Entrego-te ao mar.
E quando não mais me vires,
ainda que no horizonte te saúdo.
Navego rumo à morte dolorida,
anunciada pelo estalo do chicote,
pela gargalhada do estupro.
Sigo agora...
Não cabe mais sofrer.
As ondas que te acalantam
São as mesmas que me confinam.
As ondas que te abraçam
Navegam para longe esse navio.
Esteja com Deus minha criança.
E durma no infinito.
Para a Cia. Símpaticos - Universidade São Judas.
sábado, dezembro 15, 2007
sábado, novembro 03, 2007
O primeiro banquete
Começava a vida em banquete primoroso. Quanta fartura!
Nos primeiros contatos com o mundo, já se deleitava em saborosa iguaria. Sua mãe fora cuidadosa.
Assim nascia aquela pequenina vespa, devorando por dentro a derrotada aranha do deserto.
A natureza é bela.
Nos primeiros contatos com o mundo, já se deleitava em saborosa iguaria. Sua mãe fora cuidadosa.
Assim nascia aquela pequenina vespa, devorando por dentro a derrotada aranha do deserto.
A natureza é bela.
terça-feira, outubro 30, 2007
Nasce uma poesia
A noite terminava sem poesia.
Uma a uma, as velas iam se apagando
com o sopro melancólico
de quem chora a falta de inspiração
A caneta hibernava solitária sobre a mesa,
como quem adormece no cansaço do ócio.
O papel tatuado com palavras desconexas
rendia-se à fome de poesia.
À sensação ruim de dormir com fome.
Outro dia nasce.
A caneta acorda de seu sono de pedra
e mata a fome do papel.
Nasce uma poesia!
Uma a uma, as velas iam se apagando
com o sopro melancólico
de quem chora a falta de inspiração
A caneta hibernava solitária sobre a mesa,
como quem adormece no cansaço do ócio.
O papel tatuado com palavras desconexas
rendia-se à fome de poesia.
À sensação ruim de dormir com fome.
Outro dia nasce.
A caneta acorda de seu sono de pedra
e mata a fome do papel.
Nasce uma poesia!
domingo, outubro 21, 2007
Blue
Afundava sem parar naquele mar furioso. A cada segundo sentia seu corpo mais pesado, e estava em dúvida em lutar contra toda aquela imensidão desprovida de piedade.
Olhava ao redor e se perguntava como algo tão bonito podia ser tão perigoso. Pensou em lutar e voltar à superfície, mas seu coração não deixou.
E lá foi ele, indo cada vez mais para o fundo. Até o fim.
Afundou na imensidão azul, que algumas pessoas insistem em chamar de amor.
Olhava ao redor e se perguntava como algo tão bonito podia ser tão perigoso. Pensou em lutar e voltar à superfície, mas seu coração não deixou.
E lá foi ele, indo cada vez mais para o fundo. Até o fim.
Afundou na imensidão azul, que algumas pessoas insistem em chamar de amor.
terça-feira, outubro 16, 2007
Choro em modo menor
Em choro triste abro meu coração
E acaricio essas cordas
que ressoam sua beleza junto ao meu peito
E tento achar as notas no violão
dessa melodia suave
que traduz a perfeição de suas formas
Seu olhar é prelúdio à minha canção
Me dá o tom e andamento
uma cadência dolorosa de um amor dissonante
Em choro triste descanso minha alma
E me desfaço no último compasso
sem notas...apenas com silêncio e lágrimas.
E acaricio essas cordas
que ressoam sua beleza junto ao meu peito
E tento achar as notas no violão
dessa melodia suave
que traduz a perfeição de suas formas
Seu olhar é prelúdio à minha canção
Me dá o tom e andamento
uma cadência dolorosa de um amor dissonante
Em choro triste descanso minha alma
E me desfaço no último compasso
sem notas...apenas com silêncio e lágrimas.
quarta-feira, outubro 03, 2007
A arma secreta
O tiro atingira seu alvo com precisão impecável. Viam-se semblantes tristes, alguns até se rendiam às lágrimas. Enquanto alguns se lamentavam, outros se limitavam ao silêncio.
A arma secreta fora usada sem piedade!
Nessa hora o que se via no lado oposto era Tupãzinho grudado no alambrado, comemorando mais uma vez junto da fiel torcida, em estado de euforia extrema.
Ao entrar aos 42 do segundo tempo, marcara o gol da vitória. Ao goleiro, restava buscar a bola no fundo do gol.
Homenagem ao Talismã da fiel, Pedro Francisco Garcia. Eterno Tupãzinho.
A arma secreta fora usada sem piedade!
Nessa hora o que se via no lado oposto era Tupãzinho grudado no alambrado, comemorando mais uma vez junto da fiel torcida, em estado de euforia extrema.
Ao entrar aos 42 do segundo tempo, marcara o gol da vitória. Ao goleiro, restava buscar a bola no fundo do gol.
Homenagem ao Talismã da fiel, Pedro Francisco Garcia. Eterno Tupãzinho.
quarta-feira, agosto 29, 2007
Vida de Cão
Questionou a vida e tudo mais ao ver sua cria caída na estrada. Em meio aos monstros de aço, o pequeno ser agonizava nos últimos sons oriundos de seu corpo, agora manchado de sangue.Questionou a vida e tudo mais, pois mesmo sendo um vira-lata, seu filhote merecia uma vida feliz.
Naquele momento, uivou praguejando a Deus. Sua vida tornara-se cinza de vez.
Naquele momento, uivou praguejando a Deus. Sua vida tornara-se cinza de vez.
segunda-feira, agosto 13, 2007
Bushido
Havia honra naquele homem...
Era capaz de dizimar exércitos
e acariciar uma rosa sem machucar as pétalas
A graça de cada movimento
destoava da chuva rubra ao seu redor
Sua respiração era silêncio
Frente aos trovões em forma de gritos
Em nome de seu senhor
Rasgava a carne no frio do aço,
dançando num teatro de sangue e glória.
Samurai, não se entregou ao fracasso
Pela última vez a bainha abraçara a espada
Na coragem de tomar a própria vida,
fechou dolorosamente as cortinas em seu último ato
Belo, sereno...e glorioso
Era capaz de dizimar exércitos
e acariciar uma rosa sem machucar as pétalas
A graça de cada movimento
destoava da chuva rubra ao seu redor
Sua respiração era silêncio
Frente aos trovões em forma de gritos
Em nome de seu senhor
Rasgava a carne no frio do aço,
dançando num teatro de sangue e glória.
Samurai, não se entregou ao fracasso
Pela última vez a bainha abraçara a espada
Na coragem de tomar a própria vida,
fechou dolorosamente as cortinas em seu último ato
Belo, sereno...e glorioso
domingo, agosto 12, 2007
Choro sem lágrimas
Flauta, violão de sete cordas e pandeiro. A roda chamava um choro após o outro, praticamente sem pausa. Relembravam os mestres Nazareth, Jacob e Pixinguinha. Bonito de ser ver, melhor ainda de se ouvir. Notas saltitantes, brincalhonas, fazendo um tributo à alegria daquele povo humilde. Os três músicos chamavam todos os presentes ali para momentos de alegria, regados a cerveja e amendoins torrados, entre pedidos de músicas e piadinhas rápidas. Que ambiente era aquele!
Eis que de repente, chega o Sr. Aldir, o dono do bar, e com cara de pesar e diz:
- Vocês não sabem! O Luizinho do cavaco morreu ontem. Que descanse em paz.
O choro parou.
A tristeza que ali se fez pareceu durar uma eternidade. Uma pausa que ocuparia infinitos compassos na pauta daqueles chorões.
Em uma retomada de fôlego, a flauta puxou a melodia carregada de melancolia e poesia, seguida magistralmente pelo violão de sete cordas e o pandeiro. A tristeza não desapareceu, mas pôde ser traduzida em cada nota, na forma de despedidas e agradecimentos ao velho Luiz.
E naquele dia, os que olharam para cima disseram que notas sincopadas escoltavam a alma do ás do cavaco rumo ao céu.
O povo humilde saudava seu mestre. Sem lágrimas. Apenas com choro.
Eis que de repente, chega o Sr. Aldir, o dono do bar, e com cara de pesar e diz:
- Vocês não sabem! O Luizinho do cavaco morreu ontem. Que descanse em paz.
O choro parou.
A tristeza que ali se fez pareceu durar uma eternidade. Uma pausa que ocuparia infinitos compassos na pauta daqueles chorões.
Em uma retomada de fôlego, a flauta puxou a melodia carregada de melancolia e poesia, seguida magistralmente pelo violão de sete cordas e o pandeiro. A tristeza não desapareceu, mas pôde ser traduzida em cada nota, na forma de despedidas e agradecimentos ao velho Luiz.
E naquele dia, os que olharam para cima disseram que notas sincopadas escoltavam a alma do ás do cavaco rumo ao céu.
O povo humilde saudava seu mestre. Sem lágrimas. Apenas com choro.
terça-feira, agosto 07, 2007
Menino
Empunhava um surrado violão
Fazendo os dedos cantarem uma simples e bela melodia
Oriunda do lugar mais fundo de seu peito
Onde guardava um coração nunca antes partido
Pregava de maneira singela suas esperanças
De uma vida inteira com pés descalços e fubecas
Balas de goma e pipas dançarinas no céu azul
De primeiros amores todo dia, a partir de hoje
Não conhece ainda a arte da boemia
Nem as musas que inspirarão suas canções
Mas ele já sabe desde pequenino
que enquanto tiver um violão será sempre um menino.
Fazendo os dedos cantarem uma simples e bela melodia
Oriunda do lugar mais fundo de seu peito
Onde guardava um coração nunca antes partido
Pregava de maneira singela suas esperanças
De uma vida inteira com pés descalços e fubecas
Balas de goma e pipas dançarinas no céu azul
De primeiros amores todo dia, a partir de hoje
Não conhece ainda a arte da boemia
Nem as musas que inspirarão suas canções
Mas ele já sabe desde pequenino
que enquanto tiver um violão será sempre um menino.
domingo, agosto 05, 2007
O Cabaret
A noite fria duelava com o calor do conhaque sobre o balcão.
Com seu blazer marrom escuro, via uma névoa surgir à frente de seu nariz a cada baforada no alto de seu tédio.
Sobre o palco, o dono do cabaret tentava animar o ambiente anunciando a próxima atração. Porém como era de se esperar, sem muito êxito. Bebericando, pensou: “Mais uma puta que vem aqui desafinar no palco e tirar uns trocados. O que é que eu estou fazendo aqui?”.
Terminada aquela sessão de elogios rasgados por parte do dono, sobem ao palco um senhor munido de uma velha guitarra, com um terno surrado; e uma figura estonteante de cabelos negros e sedosos, dentro de um vestido azul.
Ele observa a mulher como se fosse um pedaço de carne. Com desprezo, porém com extrema excitação. “Que gostosa” pensava ele, com os hormônios típicos que aparecem à uma hora da madrugada em um sábado.
A mulher sorria, como se o ambiente estivesse receptivo a ela e seu parceiro. Com o microfone em mãos, ela olha para o guitarrista com um semblante carismático, singelo até. Ela e o parceiro comunicavam-se pelo olhar, e o sorriso dela indicava um “pode começar”. E assim se fez.
No balcão, ele pedia mais uma dose. Afinal, era melhor ficar bêbado para presenciar aquela “gostosa” sem talento, que estava ali no palco.
Ao soar dos primeiros acordes, a dissonância foi tomando conta do lugar. E em gemidos suaves, ela dava a introdução à canção. Gemidos que foram crescendo aos poucos. E ela conduzia a melodia como se fosse a última coisa que a vida lhe reservara. Em um giro de banco na direção do palco, ele pára o que estava fazendo para escutar com mais atenção. Seu corpo inteiro estava sensibilizado pela magia que emanava na voz e no corpo daquela mulher. Um corpo escultural.
Os dedos precisos daquele guitarrista eram só um detalhe ao lado daquela escultura em vestido azul. E como se passados apenas segundos, a performance teve fim.
A platéia aplaudia de pé, como se fosse um transe. Eram como fogos de artifício explodindo, refletidos pelo carismático e largo sorriso daquela cantora. O tímido guitarrista somente acenava com a cabeça, e afinava sua guitarra.
Como num ato preparado ardilosamente pelo destino, o olhar dela cruzou o dele no meio da platéia. A mulher apenas fixou o olhar por três segundos, sempre sorrindo, e saudou o público pela última vez.
O frio já não existia mais. Ele abria os botões superiores de sua camisa, e se perdia no turbilhão de sensações causadas pela mulher, que descia do palco e se dirigia ao camarim, acompanhada pelo velho guitarrista. “Meu Deus, o que eu faço? Não posso perder essa mulher”, disse para si mesmo.
Em ato descontrolado, ele tentou seguir o casal. Porém foi impedido pelas mãos do segurança contra seu peito:
- Senhor, apenas pessoal autorizado pode entrar no camarim. Você é amigo dos artistas?
Por trás da figura robusta do segurança, ele viu a cantora beijar a boca do guitarrista.
Beijo seguido por um longo e terno abraço.
E ele apenas disse em completo desânimo:
- Não... eu não sou nada.
E mais uma vez pensou: "o que estou fazendo aqui?”.
Com seu blazer marrom escuro, via uma névoa surgir à frente de seu nariz a cada baforada no alto de seu tédio.
Sobre o palco, o dono do cabaret tentava animar o ambiente anunciando a próxima atração. Porém como era de se esperar, sem muito êxito. Bebericando, pensou: “Mais uma puta que vem aqui desafinar no palco e tirar uns trocados. O que é que eu estou fazendo aqui?”.
Terminada aquela sessão de elogios rasgados por parte do dono, sobem ao palco um senhor munido de uma velha guitarra, com um terno surrado; e uma figura estonteante de cabelos negros e sedosos, dentro de um vestido azul.
Ele observa a mulher como se fosse um pedaço de carne. Com desprezo, porém com extrema excitação. “Que gostosa” pensava ele, com os hormônios típicos que aparecem à uma hora da madrugada em um sábado.
A mulher sorria, como se o ambiente estivesse receptivo a ela e seu parceiro. Com o microfone em mãos, ela olha para o guitarrista com um semblante carismático, singelo até. Ela e o parceiro comunicavam-se pelo olhar, e o sorriso dela indicava um “pode começar”. E assim se fez.
No balcão, ele pedia mais uma dose. Afinal, era melhor ficar bêbado para presenciar aquela “gostosa” sem talento, que estava ali no palco.
Ao soar dos primeiros acordes, a dissonância foi tomando conta do lugar. E em gemidos suaves, ela dava a introdução à canção. Gemidos que foram crescendo aos poucos. E ela conduzia a melodia como se fosse a última coisa que a vida lhe reservara. Em um giro de banco na direção do palco, ele pára o que estava fazendo para escutar com mais atenção. Seu corpo inteiro estava sensibilizado pela magia que emanava na voz e no corpo daquela mulher. Um corpo escultural.
Os dedos precisos daquele guitarrista eram só um detalhe ao lado daquela escultura em vestido azul. E como se passados apenas segundos, a performance teve fim.
A platéia aplaudia de pé, como se fosse um transe. Eram como fogos de artifício explodindo, refletidos pelo carismático e largo sorriso daquela cantora. O tímido guitarrista somente acenava com a cabeça, e afinava sua guitarra.
Como num ato preparado ardilosamente pelo destino, o olhar dela cruzou o dele no meio da platéia. A mulher apenas fixou o olhar por três segundos, sempre sorrindo, e saudou o público pela última vez.
O frio já não existia mais. Ele abria os botões superiores de sua camisa, e se perdia no turbilhão de sensações causadas pela mulher, que descia do palco e se dirigia ao camarim, acompanhada pelo velho guitarrista. “Meu Deus, o que eu faço? Não posso perder essa mulher”, disse para si mesmo.
Em ato descontrolado, ele tentou seguir o casal. Porém foi impedido pelas mãos do segurança contra seu peito:
- Senhor, apenas pessoal autorizado pode entrar no camarim. Você é amigo dos artistas?
Por trás da figura robusta do segurança, ele viu a cantora beijar a boca do guitarrista.
Beijo seguido por um longo e terno abraço.
E ele apenas disse em completo desânimo:
- Não... eu não sou nada.
E mais uma vez pensou: "o que estou fazendo aqui?”.
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